Incêndio do circo em Niterói (1961)

O incêndio do Gran Circus Norte-Americano, uma semana antes do Natal de 1961, deixou cerca de 500 mortos e 120 mutilados. Foi a maior tragédia que Niterói já viveu e causou comoção no mundo inteiro, com votos de pesar inclusive do Papa João XXIII.  A cidade ficou traumatizada e só voltou a ver um circo 14 anos depois.

Incêndio no Circo de Niterói 14

Tragédia

O fogo durou cerca de dez minutos e consumiu rapidamente a lona recém-adquirida, que pesava seis toneladas e era de nylon (detalhes que faziam parte da propaganda do circo). A cobertura, em chamas, caiu sobre os 2.500 espectadores. A multidão tentou fugir, o que causou pânico e pisoteamento.

Morreram 372 pessoas na hora e pelo menos 200 feridos foram hospitalizados, a maior parte em estado grave. Muitos destes não sobreviveram. Como não havia espaço no IML de Niterói, vários corpos estavam sendo recolhidos às câmaras de estocagem de carne bovina da Indústrias Frigoríficas Maveroy.

Culpados

“Enquanto Valter Rosas dos Santos jogava gasolina pelo lado de fora do circo, Adílson Marcelino Alves (réu confesso), assistia, dentro, ao espetáculo, se divertindo com o palhaço. Cinco minutos antes de terminar o show, saiu e, mesmo sabendo que amigos seus estavam dentro do circo, botou fogo em tudo” – contou aos jornalistas o próprio Adílson, o Dequinha, o principal responsável pelo incêndio, na presença dos policiais.

– Tribuna da Imprensa, 22 de dezembro de 1961

Três homens foram condenados pelo incêndio:

  • Adilson Marcelino Alves: conhecido como Dequinha, foi condenado a 16 anos de reclusão. Na época, considerava-se que a pena equivaleria à prisão perpétua, pois sendo ele oligofrênico congênito, a cada seis anos seria submetido a um teste psiquiátrico que dificilmente o daria como indivíduo são. Mas onze anos depois, Dequinha fugiu da cadeia e foi encontrado morto em um beco de Niterói.
  • Valter Rosa dos Santos: conhecido como Bigode, condenado também a 16 anos de reclusão.  Cumpriu 13 anos da pena e foi solto, em 1975, em regime de liberdade vigiada.
  • José dos Santos: conhecido como Pardal, condenado a 14 anos de prisão.

O motivo foi vingança. Adilson trabalhou na montagem da lona, mas foi demitido porque o dono do circo, Danilo Stevanovich, descobriu que ele tinha antecedentes criminais. Um dia antes da tragédia, Adilson acusou o funcionário Maciel Felizardo de ter provocado a sua demissão, que o agrediu. Adilson reagiu jurando vingança.

Profeta Gentileza

Seis dias após a tragédia, José Datrino acordou ouvindo “vozes astrais”, segundo suas próprias palavras:

No dia 23 de dezembro de 1961 eu recebi o chamado de três vozes astrais para deixar o mundo material, e viver o mundo espiritual na terra. Eu deveria vir como São José para representar Jesus de Nazaré na terra, perdoar toda a humanidade e mostrar o caminho da verdade que é o nosso Pai. (…) Fui ao Circo ser o consolador de todos que chegavam desesperados porque perderam papai, mamãe…

O empresário pegou um de seus caminhões, foi para o local do incêndio e plantou jardim e horta sobre as cinzas do circo. Aquela foi sua morada por quatro anos. Daquele dia em diante, passou a se chamar José Agradecido ou Profeta Gentileza.

Ivo Pitanguy

Pitanguy e uma equipe de voluntários dedicaram-se, durante meses, ao tratamento das vítimas, através da cirurgia reparadora mas também da cirurgia estética, na época ainda desprezada. Nessa ocasião, Pitanguy organizou o Serviço de Queimados do Hospital Antônio Pedro.

Eram 12 médicos da equipe de Ivo Pitanguy e seis médicos argentinos. Os EUA forneceram 300 metros quadrados de pele humana congelada para ser usada no tratamento das vítimas.

Gran Circus Norte-Americano hoje

Panfleto do Gran Circo Americano

Temos notícias do funcionamento do Gran Circus Norte-Americano em pelos menos três ocasiões: Santos (1996), São José dos Campos (1997) e Joinville (1998).

Nesta última, o circo contava com uma estrutura de 56 veículos, 80 animais, uma equipe de 70 pessoas fixas e ainda 30 trabalhadores terceirizados.

Mas, convenhamos, é difícil sobreviver no mundo dos espetáculos carregando um estigma desses.

Jornais da época

O blog grancircusincendio.blogspot.com contém transcrições de jornais da época noticiando o fato: Tribuna da Imprensa, Diário da Tarde e Tribuna do Paraná.

Fotos

As fotos são do Laboratório de História Oral e Imagem da UFF, que tem pesquisas sobre o assunto envolvendo vídeo, fotos e publicações.

Vídeo

A história do incêndio do Gran Circus Norte-Americano foi retratada no programa Linha Direta Justiça, da Rede Globo, exibido no dia 29 de junho de 2006. A seguir seguem as quatro partes do programa, encontradas no youtube:

Link permanente para este artigo: https://nitsites.com.br/blog/incendio-circo/

46 comentários

1 menção

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    • Mel Oliveira em 1 de fevereiro de 2011 às 16:20
    • Responder

    Nossa , eu já tinha ouvido falar sobre o acontecimento , mais nem imagina a gravidade de proporções causadas .. que tragédia!! Muitas crianças faleceram..eu nem consigo imaginar a angustia que passaram antes de morrerem , o desespero a dor da carne. Os que sobreviveram tb sofreram muito…….e os familiares nem se fala! Conheço toda essa area porém esse jardim que foi plantado pelo profeta gentileleza não existe mais pois eu nasci mais de 20 anos depois do fato e nunca ouvi mensionarem esse local . E sabe o que é mais interessante ? Não existe nenhum memorial em homenagem as vitimas e Niterói até hj recebe circos no centro .

    • dannyelly em 18 de fevereiro de 2011 às 09:24
    • Responder

    Tive curiosidade em conhecer mais a históia do profeta Gentileza,porém não sabia da gravidade que havia sido sua vida no passado.O profeta veio a aqui para o mundo de provas e espiação e cumpriu a sua missão ,pregando a palavra de Deus e deixando de lado os seu bens materias.E assim ele se tornou conhecido como Profeta gentileza,escrevento lindas palavras amorosas,nas pilastras do Viaduto do Caju – o lugar mais cinza, feio e sem vida da cidade.fica com seus dizeres marcantes pintados em preto, verde, amarelo num fundo branco…

  1. EU GOSTARIA DE ENCONTRAR UM FILME FEITO PELA GLOBO NOS ANOS ENTRE 1977 Á 1980 , O NOME DO FILME ACHO QUE É O CIRCO QUE PEGOU FOGO .DIRIGIDO POR MILTON MORAIS , ONDE TEM UMA SENA QUE NO CANTEIRO DO CIRCO EXISTIA UMA SALA DE AULA ONDE A PROFESSORA
    ENCINAVA E EU MAIS OU MENOS TINHA 7 Á 12 ANOS LEVANTEI O DEDO E
    DISSE __ PROFESSORA ! PROFESSORA ! EU VOU ESTUDAR MUITO
    PA TABAIÁ NO CIRCO , E AI OS ALUNOS COMESSAVAM A RIR DE EU , POR
    QUE EU FALEI ERRADO. O MEU TELEFONE É (021)-94287946 .

    • Sandro em 16 de abril de 2012 às 12:07
    • Responder

    Caro amigo, sou de Niterói e estou escrevendo um livro que trata sobre incêndios e tenho descoberto fatos interessantes sobre o incêndio do Circo que pode mudar toda uma história no que se refere a culpa do tal “Dequinha” que na verdade não apareceu morto em um beco, e sim foi executado com dois tiros, um pelas costas e outro na nuca para conferir no próprio morro onde ele morava em Niterói.
    Uma das crianças da época que presenciou o assassinato, hoje adulto me confidenciou tal fato e a versão da família foi que na verdade o que provocou o incêndio foi o estouro de uma lâmpada. Um ponto que me fez acreditar nesta versão foram outros fatos ocorridos, é verdade que ele fora demitido do circo e o mesmo não pagou a ele o que deveria de direito, mais o mesmo dono do circo anos atrás perdeu outros dois circos que tinha pelo mesmo motivo, incêndio! Um se chamava Bufalo Bill Circus e o outro Shangrilar Circus.
    Sabemos que os circos sempre foram ambientes precários principalmente na época que não havia a prevenção, sabemos também que a polícia quando quer sabe fazer uma pessoa confessar até o que não fez e por ter sido uma tragédia muito grande precisavam de um “boi de piranha”.
    Será que realmente o Dequinha foi o culpado ou foi o “bucha”? Estou tentando levantar as informações do assassinato, assim que conseguir mais informações em entro em contato. Pessoal, infelizmente o homem tem o péssimo habito de manipular as informações, antes de julgar vamos ver os verdadeiros fatos.

      • Otto em 25 de junho de 2012 às 16:41
      • Responder

      Sandro:

      Continue pesquisando, o incêndio não foi provocado. Eu estava perto de onde começou o incêndio e creio que a origem deve ter sido um curto-circuito ou uma combustão provocada pelo alto calor que fazia naquele dia.

      [email protected]

      • Jamara em 28 de janeiro de 2013 às 17:01
      • Responder

      Boa tarde!

      Sandro que bacana o seu trabalho!
      Não tinha conhecido dessa tragédia, fiquei sabendo por comparações a tragédia que ocorreu em RS.
      Quando finalizar as suas pesquisas, nos informe, fiquei curiosa!

      Ah, com certeza o homem sabe manipular as informações!

      Att.

    • Savanah em 26 de maio de 2012 às 09:10
    • Responder

    Eu sou absolutamente contra o uso de animais em circos!

      • juliana em 27 de janeiro de 2013 às 18:24
      • Responder

      desculpe, mas o assunto é sobre o incêndio.

    • Renasci naquela dia. em 9 de novembro de 2012 às 07:19
    • Responder

    Eu morava no Saco de São Francisco, minha mãe e eu planejávamos ir ao circo neste dia. Porém devido ao calor, decidimos ir ao cinema. No meio da sessão as luzes foram acesas, a projeção interrompida, para anunciar a tragédia…

      • iony em 3 de agosto de 2013 às 12:36
      • Responder

      Livramento que o Senhor te deu!!!

        • lucia bruno em 12 de junho de 2018 às 00:51
        • Responder

        Eu também renasci e minha irmã eu tinha 7 anos minha irmã 10, iamosnaquele dia com nossa irmã de parte de pai ao circo pela primeira vez, só que a amiga dela não quiz ir por ter costuras para fazer,ai minha irma de parte de pai foi dormir ferrou no sono , e não acordou para nos levar, diz ela que sonhou, que o cerco estava pegando fogo, e a amiga dela sabendo que íamos ao circo, ouvindo pela primeira radio a trágica CA noticia correu desesperada lá em casa para saber se ganhamos ido mesmo. Salva mo nos pela intervenção divina mesmo!

      • lucia bruno em 12 de junho de 2018 às 00:47
      • Responder

      Eu também renasci e minha irmã eu tinha 7 anos minha irmã 10, iamosnaquele dia com nossa irmã de parte de pai ao circo pela primeira vez, só que a aigadela não quiz ir por ter costuras para fazer,ai minha irma de parte de pai foi dormir ferrou no sono , e não acordou para nos levar, diz ela que sonhou, que o cerco estava pegando fogo, e a amiga dela sabendo que íamos ao circo, ouvindo pela primeira adio a trágica CA noticia correu desesperada lá em casa para saber se ganhamos ido mesmo. Salva mo nos pela intervenção divina mesmo!

    • roberta decastro machado em 24 de janeiro de 2013 às 18:00
    • Responder

    eu gostaria que fizese um filme sobre este circo

  2. eu gostaria que fizese um felme sobre o circo

    • sonia em 27 de janeiro de 2013 às 19:04
    • Responder

    EU NÃO ERA PARA ESTAR HOJE AQUI. MEU PAI QUASE MORREU NESTE ACIDENTE, ELE ESTAVA NO QUARTEL E UM AMIGO CHAMOU PARA IR AO CIRCO ERA A DIA DE FOLGA DELE, ELE DISSE QUE ESTAVA CANSADO E NÃO FOI A ESTREIA, MAS TEVE QUE IR PARA RESGATAR CORPOS, ELE CONTA QUE FFOI MUITO TRISTE.

    • Villela em 27 de janeiro de 2013 às 20:14
    • Responder

    Eu morava na Rua Padre Augusto Lamego,nº 33, em um apartamento. Bem próximo onde foi instalado o circo.

    Não fui assistir aos espetáculos porque meu pai chegou em casa naquele dia e disse que ninguém iria ao circo. A Jane que morava com a gente, ia nos levar.

    Fiquei desgosto por não ir, fui até próximo do circo, vi as pessoas entrando e voltei e fiquei sentado nos degraus da portaria do prédio. Mas tarde pessoas passavam pela rua gritando, ” o circo está pegando fogo “.

    No outro dia pela manhã, eu e alguns amigos fomos no local e vimos muitos calçados,etc.

    O Dequinha, era considerado desmiolado ( andava perambulando pelo Ponto Cem Réis ), foi preso e depois de um tempo foi solto, e uma vez ,depois que ele foi soltou, vimos ele passar na Rua Padre Augusto Lamego, e lembro de comentários; ele é inocente, foi um curto circuito que incendiou a lona.

    Depois de um tempo soubemos da morte dele.

    Já o Gentileza, andava pelo Ponto Cem Reis, e quando ele passava gritávamos Gentileza!!! E ele sorria, e acenava.

    É o que eu recordo.

    Villela

    • Ney Pantoja em 27 de janeiro de 2013 às 20:54
    • Responder

    Ainda nao tinha conhecimento deste ocorrido, mas foi algo terrivel.

    Ney.

    • Fabiana em 28 de janeiro de 2013 às 00:19
    • Responder

    Essa tragedia concerteza foi muito triste agora vivemos outra tragedia em santa maria na boate kss dessa madrugada de domingo.

      • Eu em 28 de janeiro de 2013 às 00:28
      • Responder

      COM CERTEZA! COM CERTEZA!!! CONCERTEZA NÃO EXISTE!!!!

    • Antonio em 28 de janeiro de 2013 às 02:37
    • Responder

    Desejo ter acesso a lista dos nomes das pessoas que morreram neste incendio pois uma amiga desapareceu nesta data e ela estava neste circo.

      • Suelley em 28 de janeiro de 2013 às 14:10
      • Responder

      Antonio minha vó também procura por uma amiga que ela acha que estava neste incendio no circo,elas trocavam cartas na epoca e depois disso nunca mais tevi noticia e suas cartas não foram mais respondidas,gostaria de ter acesso a está lista também,para verificar se ela estava no local.Desde ja agradeço se´puder me dizer como consigo ter acesso.

        • Rebecca Santos em 29 de janeiro de 2013 às 17:34
        • Responder

        Pessoal.. espero e torço muito pra que consigam encontrar essas pessoas (e/ou destino delas) que desapareceram depois disso… Abração a todos e que Deus abençoe e guarde a todos nós!

        • Eliane em 3 de fevereiro de 2013 às 00:46
        • Responder

        Eu também gostaria de saber onde encontrar a lista de desaparecidos naquele dia, sei de um senhor que até hoje está internado em um hospital psiquiátrico e é sobrevivente da tragédia do Gran circo americano mas até hoje não conseguiu encontrar sua família, ele não fala mas entende tudo e se emociona muito quando falam do ocorrido. Se alguém puder ajudar, dizendo onde encontrar familiares agradeço? Abraços.

          • Patrícia em 20 de novembro de 2013 às 09:48
          • Responder

          Nossa Eliane! Que triste isso!
          Hoje com a internet acho que fica mais fácil de você encontrar esta informação e até a família dele. Se tiver fotos dele, divulgue no facebook. Muitas pessoas desaparecidas foram encontradas assim!
          A família dele deve morar por Niterói e São Gonçalo. Não deve ser tão difícil.
          Fiquei comovida com essa história, ofereço inclusive a minha ajuda.

          Um abraço!

  3. OI ANTONIO JA SAIU LISTA COM OS NOMES VITIMAS
    PESAMES TODOS FAMILIARES SANTA MARIA.

      • reinaldo em 28 de janeiro de 2013 às 13:23
      • Responder

      O Antonio está se referindo a lista de mortos do circo e não da boate.

    • TATI em 28 de janeiro de 2013 às 17:33
    • Responder

    Gostaria muito que a Globo reprisasse o episódio do LINHA direta sobre o incêndio em NITERÓI RJ do Circo NO ANO de 61

    1. Você pode assistir nesse post mesmo, lá em cima. Na parte de vídeos tem o programa completo, dividido em quatro partes.

        • iony em 3 de agosto de 2013 às 12:41
        • Responder

        nao consegui ver…

  4. E se for mesmo verdade que Dequinha era inocente? não tem como reparar esta crueldade? e os dois amigos????

    • Rebecca Santos em 29 de janeiro de 2013 às 17:29
    • Responder

    Não consigo nem imaginar a dor e o desespero de quem passou por essas tragédias e dos seus familiares e amigos… E lamento muito e oro à Deus pra que NUNCA MAIS aconteça esse tipo de coisa!!

    • mariise em 31 de janeiro de 2013 às 22:21
    • Responder

    E hoje a tragédia se repete em Santa Maria no Rio Grande, o que mudou de lá pra cá? É sempre assim, quendo acontece uma desgraça desta é um corre corre das autoridades, passou uns dias a imprensa não fala mais, e tudo cai no esquecimento até a próxima catástrofe. Até quando nós iremos aceitar certas coisa, até quando vamos enterrar nossos mortos?

    • Flavio em 1 de fevereiro de 2013 às 16:27
    • Responder

    TRAGÉDIA NO CIRCO

    Irmão X

    Naquela noite, da época recuada de 177, o “concilium” de Lião regurgitava de povo.
    Não se tratava de nenhuma das assembléias tradicionais da Gália, junto ao altar do Imperador, e sim de compacto ajuntamento.
    Marco Aurélio reinava, piedoso, e. Embora não houvesse lavrado qualquer rescrito em prejuízo maior dos cristãos, permitira se aplicassem na cidade, com o máximo rigor, todas as leis existentes contra eles.
    A matança, por isso, perdurava, terrível.
    Ninguém examinava necessidades ou condições. Mulheres e crianças, velhos e doente, tanto quanto homens válidos e personalidades prestigiosas, que se declarassem fiéis ao Nazareno, eram detidos, torturados e eliminados sumariamente.
    Através do espesso casario, a montante da confluência do Ródano e do Saône, multiplicavam-se prisões, e no sopé da encosta, mais tarde conhecida como colina de Fourvière, improvisara-se grande circo, levantando-se altas paliçadas em torno de enorme arena.
    As pessoas representativas do mundo lionês eram sacrificadas no lar ou bàrbaramente espancadas no campo, enviando-se os desfavorecidos da fortura, inclusive grande massa de escravos, ao regozijo público.
    As feras pareciam agora entorpecidas, após massacrarem milhares de vítimas, nas mandíbulas sanguinolentas. Em razão disso, inventavam-se tormentos novos.
    Verdugos inconscientes ideavam estranhos suplícios.
    Senhoras cultas e meninas ingênuas eram desrespeitadas antes que lhes decepassem a cabeça, anciães indefesos viam-se chicoteados até a morte. Meninos apartados do reduto familiar eram vendidos a mercadores em trânsito, para servirem de alimárias domésticas em províncias distantes, e nobres senhores tombavam assassinados nas próprias vinhas.
    Mais de vinte mil pessoas já haviam sido mortas.

    *
    Naquela noite, a que acima nos referimos, anunciou-se para o dia seguinte a chegada de Lúcio Galo, famoso cabo de guerra, que desfrutava atenções especiais do Imperador por se haver distinguido contra a usurpação do general Avídio Cássio, e que se inclinava agora a merecido repouso.
    Imaginaram-se, para logo, comemorações a caráter.
    Por esse motivo, enquanto lá fora se acotovelavam gladiadores e jograis, o patrício Álcio Plancus, que se dizia descendente do fundador da cidade, presidia a reunião, a pedido do Propretor, programando os festejos.
    – Além das saudações, diante dos carros que chegarão de Viena – dizia, algo tocado pelo vinho abundante -, é preciso que o circo nos dê alguma cena de exceção… O lutador Setímio poderia arregimentar os melhores homens; contudo, não bastaria renovar o quadro de atletas…
    – A equipe de dançarinas nunca esteve melhor – aventou Caio Marcelino, antigo legionário da Bretanha que se enriquecera no saque.
    – Sim, sim… – concordou Álcio – instruiremos Musônia para que os bailados permaneçam à altura…
    – Providenciaremos um encontro de auroques – lembrou Pérsio Níger.
    – Auroques! Auroques!… – clamou a turba em aprovação.
    – Excelente lembrança! – falou Plancus em voz mais alta – mas, em consideração ao visitante, é imperioso acrescentar alguma novidade que Roma não conheça…
    Um grito horrível nasceu da assembléia;
    – Cristãos às feras! cristãos às feras!
    Asserenado o vozerio, tornou o chefe do conselho:
    – Isso não constitui novidade! E há circunstâncias desfavoráveis. Os leões recém-chegados da África estão preguiçosos…
    Sorriu com malícia e chasqueou:
    – Claro que surpreenderam, nos últimos dias, tentações e viandas que o prórpio Lúculo jamais encontrou no conforto de sua casa…
    Depois das gargalhadas gerais, Álcio continuou, irônico:
    – Ouvi, porém, alguns companheiros, ainda hoje, e apresentaremos um plano que espero resulte certo. Poderíamos reunir, nesta noite, aproximadamente mil crianças e mulheres cristãs, guardando-as nos cárceres… E, amanhã, coroando as homenagens, ajuntá-las-emos na arena, molhada de resinas e devidamente cercada de farpas embebidas em óleo, deixando apenas passagem estreita para a liberação das mais fortes. Depois de mostradas festivamente em público, incendiaremos toda a área, deitando sobre elas os velhos cavalos que já não sirvam aos nossos jogos… Realmente, as chamas e as patas dos animais formarão muitos lances inéditos…
    – Muito bem! Muito bem! – reuniu a multidão, de ponta a ponta do átrio.
    – Urge o tempo – gritou Plancus – e precisamos do concurso de todos… Não possuímos guardas suficientes.
    E erguendo ainda mais o tom de voz:
    – Levante a mão direita quem esteja disposto a cooperar.
    Centenas de circunstantes, incluindo mulheres robustas, mostraram destra ao alto, aplaudindo em delírio.
    Encorajado pelo entusiasmo geral, e desejando distribuir a tarefa com todos os voluntários, o dirigente da noite enunciou, sarcástico e inflexível:
    – Cada um de nós traga um… Essas pragas jazem escondidas por toda a parte… Caçá-las e exterminá-las é o serviço da hora…
    Durante a noite inteira, mais de mil pessoas, ávidas de crueldade, vasculharam residências humildes e, no dia subsequente, ao Sol vivo da tarde, largas filas de mulheres e criancinhas, em gritos e lágrimas, no fim de soberbo espetáculo, encontraram a morte, queimadas nas chamas alteadas ao sopro do vento, ou despedaçadas pelos cavalos em correria.

    *
    Quase dezoito séculos passaram sobre o tenebroso acontecimento… Entretanto, a justiça da Lei, através da reencarnação, reaproximou todos os responsáveis, que, em diversas posições de idade física, se reuniram de novo para dolorosa expiação, a 17 de dezembro de 1961, na cidade brasileira de Niterói, em comovedora tragédia num circo.
    ………………………………………………………………………………………………………………

    Livro Cartas e Crônicas – Espírito Irmão X – Psicografia Francisco C. Xavier

      • Joao em 2 de fevereiro de 2013 às 13:18
      • Responder

      Que revelação incrível!!
      Ficamos procurando as causas e os culpados e achamos na maioria das vezes que as pessoas morrem injustamente, mas por esta revelação espiritual podemos ver que as razões das coisas acontecerem vem de outra instância, de outro tempo, de outra encarnação!!
      Pode ser que muitas pessoas não acreditem em tal revelação, mas eu acredito e para mim esta é uma explicação bem lógica e que traz a conclusão que a justiça divina não falha!!
      Bem que Jesus nos disse: “Ai do mundo, por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem!” (Mt, 18:7)

      • Sandra em 7 de fevereiro de 2013 às 20:19
      • Responder

      Realmente, é uma historia para se pensar…
      Assim podemos concluir que todos que se envolveram nesta catástrofe estavam apenas pagando as dividas que contrairam em outra vida.
      É aquela velha frase: Aqui se faz, aqui se paga… e podemos até acrescentar, pode ser que o pagamento não aconteça nesta vida, mas de certo virá em outra mais pra frente!!
      Que Deus os tenha!

      • iony em 3 de agosto de 2013 às 12:58
      • Responder

      Seguindo esse raciocinio, as pessoas que morreram no incendio precisavam passar por isso para expiacao de seus feitos em vidas passadas? Ou seja elas mereceram morrer?…

    • Adélia Gomes Py em 4 de fevereiro de 2013 às 17:24
    • Responder

    Eu estava no circo, vi uma chama muito pequena, avisei ao meu pai ele não acreditou era no momento do salto triplice. Passou alguns minutos e novamente vi o fogo, tornei avisar, ele percebeu e quando saímos ele ajudou a abrir os portões. Ninguém entendia o que estava acontecendo, moravámos na Rua Benjamin Constant n. 132, Ponto Cem Reís Santana ao lado do posto de gasolina. Perdi muitos conhecidos, amiga da minha mãe saiu com 4 filhos de casa e na volta tinha só 3 é não se tinha dado conta. O primeiro fogo que eu vi, na realidade ainda não era fogo, era um aviso. Só fiquei sabendo que era um aviso após uns 25 anos, quando comecei a estudar o espirtismo,pois não daria tempo entre a primeira vez que vi o fogo é a segunda. Eu tinha 11 anos. Lamento muito por todos os que faleceram.

    • Luiz Araújo em 13 de junho de 2013 às 11:04
    • Responder

    Tenho muito respeito pelos postulados da doutrina espírita e pelas comunicações espirituais, principalmente vindas da mediunidade de Chico Xavier.
    Não concordo com a maneira de como esses fatos são anunciadas ou digamos explicadas.
    Pessoas foram mortas de forma impactante, dolorida, grotesca, selvagem. Física e emocionalmente.
    Vale lembrar que essas mortes foram em mais de 70% de crianças.
    Acredito que a Justiça Divina existe e tem seus mistérios, mas apontar como crimes do passado, resgate coletivo de crimes hediondos de outras vidas e tudo o mais – parece sim uma tremenda insensibilidade com as pessoas que assim se foram e com os familiares que se angustiaram e ainda choram essas tão lamentadas perdas.
    Certamente não existe Injustiça divina, mas não podemos esquecer também que a caridade de lamentar essas horríveis perdas não podem ser equiparadas a resgates automáticos e assim explicar como “aqui fez aqui paga”. Muito ainda precisa ser melhor analisado entre esses extremos.
    Muito cuidado ao examinar esses processos cármicos. Senão surgirão pessoas simplesmente justificando que se eles passaram por assim merecerem.
    Pode até ter sido – mas é de uma brutal insensibilidade dizer isso abertamente. Quem diz, faço crer – não são parentes da vítimas. Não tiveram filhos queridos emulados naquelas chamas mortais.
    Quem assim fala não passou por momentos de extrema saudade e pavor com tudo o que aconteceu.
    E onde ficam os sublimes sentimentos de humanidade e amor cristão.
    Aconselho muito cuidado.

    • marcinelia em 18 de janeiro de 2015 às 01:19
    • Responder

    Meu pai tem um super amigo q foi a esse circo no dia da estreia . ele foi c a esposa e os dois filhos. Quando o circo começou a pegar fogo ele pegou o o casal de filhos no colo e mandou q a esposa segurasse em seu cinto atrás dele. Mas na correria ele conseguiu sair c os filhos no colo mas a esposa havia caido em meio a tanta gente q e quando ele colocou os filhos de fora e tentou voltar p pegar a esposa foi impedido porque não houve mais tempo. Ela foi levada p o hospital mas não aguentou as queimaduras. Hoje ele tem 86 anos. Os filhos estão casados . Já são avos e ele bisavô. Ate hoje ele sente a falta dela. Hoje vive c outra mulher q conheceu decadas depois de ter ficado viuvo mas nunca se casou no papel. Pq prometeu a esposa no hospital.

    • neila em 28 de abril de 2015 às 09:08
    • Responder

    Muito triste essa tragedia,resolvi pesquisar porque um amigo me contou que a mae dele estava gravida dele e foi levar os irmaos dele para conhecer o circo ela e os filhos foram salvos prque segundo ela o elefante assustado veio abrindo caminho foi onde ela conseguiu sair,e tmb relata que o animal pisoteou muitas pessoas fiquei horrorizada ao imaginar a cena.

    • Nadja de lima lucena em 14 de dezembro de 2016 às 10:36
    • Responder

    Olá…me chamo Nadja de Lima Lucena neta de Eunice Lucena de Lima ..também estou a procura de alguma informação de minha vó. Ela é natural de Maceió-Alagoas e foi trabalhar para uma familia no Rio de Janeiro em Copacabana na Rua Barata Ribeiro em 1958 deixando 02 filhos ainda criança (Moacir -falecido e meu pai) e Djacir (meu tio). Por 02 anos ainda mateve contato por cartas porém após essa tragédia não manteve mais contato!! Até hoje não temos mais notícia dela. Quem souber de alguma informação deixe seu recado ou mande um e-mail para [email protected]

    • nilton de souza moraes em 8 de novembro de 2017 às 09:26
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    pericles de moraes circo norte-americano 1938

    • Fatima em 22 de dezembro de 2017 às 23:11
    • Responder

    Eu tinha 2 anos de idade e morava com meus país na rua Sao Joao,206,Centro.Meu pai na noite anterior a tragedia do circo,disse a minha mae que iamos ao circo,minutos a pe da minha casa.Minha mae discordou.Disse que nao gostava de ir a estreias.A decisao de minha mae nos salvou. Apesar de ser pequeña,me lembro da minha mae sentada comigo na janela e un menino entrando correndo pela rua gritando:O circo pegou foto!!!

    • Clayton André em 12 de outubro de 2018 às 16:57
    • Responder

    Eu tinha um amigo, Nésio Pinheiro de Siqueira, que morava em Niterói nessa época (1961). Ele me contou nos anos 1980’s como tinha trabalhado muito e se atrasou para ir ao Circo, pegou no sono depois do trabalho e algum tempo depois ouviu pelo rádio que o circo estava pegando fogo. Um detalhe que ele contava era como um elefante que correu por entre as chamas terminou abrindo caminho, e que havia arame farpado em volta do circo para evitar que penetras entrassem sem pagar pelo espetáculo, o que terminou piorando a situação na hora do pânico e da fuga das pessoas sob as chamas, uma tragédia, um crime contra a humanidade o que fizeram aqueles criminosos.

    • Lozimar Farelles da Silva em 1 de dezembro de 2018 às 14:22
    • Responder

    Minha avó conta que os filhos dela eram pequenos na época em que acontece a tragédia, ela ia ao circo com seus dois filhos pequenos, então no dia a tarde fazia muito calor então eles se deitaram no chão e foram dominados por um sono profundo acordando depois do horário que começava o espetáculo por uma visinha que entrou em sua casa desesperada por notícias suas já que a mesma sabia que todos iam ao circo! Então ela é uma sobrevivente, ela morava na Ilha da Conceição na época.

    • Jose Alves de Lima em 17 de dezembro de 2018 às 16:40
    • Responder

    Fiquei sabendo dessa História, através de uma musica do Teixeirinha, que fala sobre essa tragédia.

    Depois me disseram que foi um elefante assustado que correu arrastando a Lona do circo..

  1. […] foram gravados episódios do Linha Direta Justiça sobre dois casos históricos de Niterói: o Incêndio do Grand Circo Americano e o Caso das Máscaras de […]

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