Máscaras de Chumbo

Em 1966, dois homens foram encontrados mortos no alto do Morro do Vintém, Niterói, após uma suposta comunicação com extraterrestres. A história ficou conhecida como “O Caso das Máscaras de chumbo“, referência aos objetos encontrados junto aos corpos.

Ainda hoje não se sabe como e porquê eles morreram: experiência espiritual, contato com seres extraterrestres ou um roubo perfeito? Não há uma resposta definitiva. Mas uma coisa se sabe: o descaso das autoridades envolvidas na investigação transformou as duas mortes num mistério indecifrável.

Luzes no morro (e não era bala traçante!)

Segundo Jacques Vallée, houve “uma série de relatos de pessoas que individualmente viram algumas luzes acima do morro na hora aproximada em que os homens morreram”. Jacques Vallée destacou-se pelo desenvolvimento do primeiro mapeamento computadorizado de Marte e por seu trabalho na criação da ARPANET, rede precursora da Internet. Ele defende a legitimidade científica da hipótese extaterrestre.

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Em setembro de 1966, um repórter foi à oficina de Miguel e encontrou o livro “A Vida no Planeta Marte” com várias anotações. A partir daí e dos depoimentos dados sobre OVNIs no Morro do Vintém, a versão sobre discos voadores ganhou destaque na imprensa.

Em 1980, quando a polícia reabriu o caso, constatou-se que o mato não cresceu mais no local onde os corpos foram encontrados. Estava claro que alguma coisa realmente incomum havia ocorrido ali.

Vítimas

As vítimas encontradas eram os amigos Miguel José Viana, 34 anos, e Manoel Pereira da Cruz, 32 anos. Ambos nascidos em Campos dos Goytacazes, espíritas, casados e técnicos em eletrônica.

Eles saíram de Campos no dia 17/08/1966 dizendo que iriam para São Paulo comprar peças eletrônicas e um carro. Levavam Cz$ 2.300.000, o equivalente hoje a 3 mil reais.

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Com eles foi encontrado um lenço com as iniciais “AMS”, que não corresponde às iniciais de nenhuma das vítimas nem de ninguém das famílias. Também foram encontradas toalhas e uma garrafa de água mineral. Eles estavam deitados sobre folhas de Pindoba. A planta é conhecida por ser resistente e difícil de cortar, mas nenhum facão foi encontrado próximo ao local.

Élcio Gomes, que trabalhava com Miguel e Manoel, foi o principal suspeito das mortes. Ele chegou a ser preso e levado a Niterói. Mas após alguns dias foi solto, pois não havia elementos suficientes que o ligassem ao crime.

Sobrinha

Minutos antes de partir de Campos para Niterói, Miguel encontrou uma sobrinha, com quem teve o seguinte diálogo:

– Tá indo pra onde, tio?

– Pra São Paulo.

– Vai fazer o que em São Paulo?

– Comprar um carro.

– Em São Paulo? Por que o senhor não compra aqui, é mais barato.

– Eu preciso saber de uma coisa. Depois quando eu voltar, eu te conto se acredito mesmo nessa estória de espiritismo ou não.

Máscaras de chumbo

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O que mais chamou a atenção no caso foram as duas máscaras de chumbo encontradas com os homens. Eram máscaras usadas tipicamente para proteção contra radiação.

Segundo Georges Charbel, radioestesista, “a radiação atinge o ser humano através da pele ou dos olhos, então quando você protege os olhos, está trabalhando com outro plano chamado terceiro olho, que seria o centro de receber a luz de outra dimensão”. Viram, amigos? O terceiro olho não fica na escuridão…

Herval, irmão de Miguel, afirma que as máscaras foram confeccionadas na casa do Manoel.

Bilhetes

Três bilhetes foram encontrados com as vítimas.

  • Um era um vale do casco de água mineral comprada na região, o que indica que eles pretendiam voltar;
  • Outro continha uma série de letras e números: “E988 – ECL82 – 12AU7 – 6CS2”. Se fosse hoje, diria se tratar do serial pra piratear algum programa;
  • O terceiro vinha com as seguintes instruções:

16,30 Hs. Está local determinado.

18,30 Hs. Ingerir capsúla após efeito, proteger metais e aguardar sinal máscara.

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Com exceção do vale, os bilhetes tiveram origem na oficina de Miguel, onde foi encontrado um talonário de solicitação de serviços com as mesmas características do papel dos bilhetes. A caligrafia era de Miguel, mas as palavras, como “ingerir”, são consideradas incompatíveis com o nível intelectual do mesmo, indicando que as instruções foram possivelmente ditadas.

Investigação atrapalhada

Após uma investigação policial feita de forma negligente, não se chegou a nenhuma conclusão oficial. Nenhum ferimento aparente foi encontrado na autópsia, contudo, uma investigação de substâncias tóxicas nos órgãos internos foi impossível pois os mesmos não foram conservados adequadamente.

Em 18/08/1966, um menino encontrou os cadáveres. O primeiro policial contactado, morador da vizinhança, simplesmente ignorou a denúncia. Suspeita-se que ele tenha ido ao local e roubado o dinheiro das vítimas. Dois dias depois, três meninos também encontram os corpos e avisam “oficialmente” às autoridades. Na manhã seguinte, polícia e bombeiros foram finalmente ao morro. Como “o mau cheiro atrapalhava os trabalhos”, jogaram formol em excesso nos cadáveres, o que prejudicou a necropsia. A situação piorou quando veio a notícia de que as vísceras, uma pista fundamental para o esclarecimento do caso, tinham sido jogadas no lixo.

Suposições de “pacto com o demônio” e “coisa de veado”, como circulou na imprensa por alguns dias, também atrapalharam as investigações.

Nova investigação

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Um ano após as mortes, a justiça, insatisfeita com as conclusões da polícia, pediu a exumação dos cadáveres. Começou então uma nova investigação, feita pela Delegacia de Homicídios. Segundo Saulo Soares de Souza, detetive da delegacia na época, “era preciso afastar a possibilidade de marcianos da história”.

A história ficou reconstituída deste jeito:

  • 17/08/1966, 14h – Desembarcaram em Niterói.
  • 14h10 – Entram em uma loja de materiais eletrônicos, de propriedade de Hernani de Carvalho Filho, que já os conhecia.  Hernani diz que eles demonstravam pressa e que não estavam acompanhados.
  • 15h – Entram numa loja para comprar capas de chuva. Apesar da chuva, saíram sem vestir as capas.
  • 16h – Na Rua Marquês do Paraná, próximo à subida do Morro do Vintém, compram em um bar uma água mineral magnesiana e pedem o vale do casco.
  • 16h30 – Vistos pela última descendo de um jipe dirigido por um sujeito louro. Subiram o morro.

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Segundo o detetive Saulo, há um buraco nessa cronometragem, quando as vítimas provavelmente pararam num Centro Espírita que ficava exatamente no caminho para o Morro do Vintém. Ele acredita que os dois tenham sido levados ao alto do morro para participar de uma experiência espírita “presidida ou comandada por alguém cujo prestígio, condição social e profissão deram a eles certeza de que não estavam mais participando de uma brincadeira”. Segundo Saulo, quando as investigações se aprofundaram, ele começou a ser pressionado por superiores cujos nomes ele prefere não revelar.

No dia 12/05/1969, pouco tempo após o procurador Edmo Lutterbach ter sido deslocado para outra jurisdição, Saulo foi surpreendido com o arquivamento do inquérito: “o promotor que entrou em seguida pediu o arquivamento do inquérito, eu nunca vi arquivar inquérito em fase policial”.

Opiniões dos envolvidos

Confira a opinião de alguns envolvidos no caso:

Idovam Ferreira, delegado:

Os dois rapazes se dirigiram diretamente a Niterói no sentido de fazer um experimento, que provavelmente seria entrar em contato com extraterrenos.

Mário Dias, jornalista que investigou o caso na época:

Até hoje eu acho que Miguel e Manoel foram assassinados. Era preciso que eles confiassem muito nas pessoas ou na pessoa que iam levá-los até lá.

Edmo Lutterbach, procurador:

Eles não conheciam nada em Niterói. Como é que esses homens vão chegar à rodoviária e vão lá naquele morro fazer uma experiência?

Aurélio Zaluar, jornalista e ufólogo:

É um acidente de percurso. Quer dizer: nem a nave sabia que eles estavam ali para provocar aquilo nem ninguém poderia pensar que seres da Terra fossem colocar máscaras de chumbo no rosto para se proteger de alguma espécie de radiação.

Jacques Vallée, cientista e ufólogo:

Evidentemente eles faziam parte de um grupo que estava realizando alguns tipos de experiência, experiências com eletrônicos, experiências com explosivos. Será que isso estava relacionado com suas crenças sobre extraterrestres? Acho que ninguém sabe a resposta.

Herval Viana, irmão de Miguel:

Houve interesse em badalar, os ufólogos, o disco-voador… Mas a realidade é que isso aí é uma grande revolta minha. Porque toda vez que eu ouço falar em máscara de chumbo, mexe comigo.  E no meu fraco modo de entender não existiu nada por aí, de disco-voador.

O que levou Miguel e Manoel a andarem mais de 2 horas pra chegar ao alto do morro? O que deu coragem aos dois para subir o Morro do Vintém, num local de mata fechada, para fazer esse tipo de experiência?

Fotos

Galeria de fotos com reproduções de imagens encontradas na Internet e exibidas na TV.

Vídeos

Em 2004, a TV Globo fez um episódio sobre o assunto no Linha Direta Justiça, com Iran Malfitano, Humberto Martins. O programa pode ser visto dividido em 5 partes no Youtube:

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8 comentários

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    • Nonato em 28 de janeiro de 2012 às 08:34
    • Responder

    Outro continha uma série de letras e números: “E988 – ECL82 – 12AU7 – 6CS2″. Se fosse hoje, diria se tratar do serial pra piratear algum programa;

    Quanto a estes “códigos”, pelo menos os três últimos tratam-se de válvulas. Eles eram técnicos, não?

    http://www.radiomuseum.org/tubes/tube_ecl82.html

      • Cícero em 22 de dezembro de 2012 às 17:27
      • Responder

      Acho que tu matou a charada. Eu li o primeiro código como EY88 e de fato existe uma válvula com esse nome também. Então podem ser 4 códigos de válvulas no fim das contas.

    • jorge em 21 de fevereiro de 2012 às 21:24
    • Responder

    Gostaria de parabenizá-los pela excelente matéria sobre o caso das “Máscaras de Chumbo” ocorrido em 1966 aqui em Nitéroi pois apesar dos alguns erros na cronologia do evento está foi uma das que mais somou fatos novos. Fui testemunha ocular do caso na época e me tornei pesquisador do Caso. Existe nessa matéria um dado que muito me chamou a atenção e se possível gostaria de saber a fonte utilizada para a pesquisa. Desde já agradeço: cordialmente Jorge

      • welton em 12 de maio de 2012 às 16:39
      • Responder

      Tambem sou pesquisador do caso e gostaria de conversar com você.
      welton, [email protected]

      • C em 3 de fevereiro de 2014 às 12:14
      • Responder

      Jorge e Welton, tambem estou pesquisando este caso pra passar uma reportagem na TV de Londres. Seria possivel conversarmos? [email protected] Obrigada

    • joao em 21 de outubro de 2014 às 14:13
    • Responder

    Por que eles usaram agua magneisiana ?

    • GUPC-RJ em 11 de julho de 2015 às 21:41
    • Responder

    Somos o (GUPC-RJ) Gupo Ufológico Plêiades Campos / RJ, segue nossos contatos para os interessados: Celular / WhatsApp Oficial (22) 9 9613-1266 / E-mail: [email protected]

    • Marco Antonio em 25 de maio de 2020 às 14:47
    • Responder

    Por que não foram a um espírita como Chico Xavier? quem sabe eles mandam mensagens e explicam tudo.

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