Hoje, 28/03/2011, confirmou-se a notícia de que a empresa Barcas S/A ganhará R$ 300 milhões do governo estadual.
Como assim?! A Barcas S/A não foi privatizada em 1998?
Foi sim. É o que tudo mundo sabe e o que diz no site da própria empresa:
Em fevereiro de 1998, um consórcio de empresas privadas assumiu o controle acionário da Companhia de Navegação do Estado do Rio de Janeiro (Conerj), sob regime de concessão, por 25 anos, dando origem à Barcas S/A. Os investimentos da empresa foram priorizados na recuperação da frota e construção de novas embarcações, reforma das estações e na implementação de novas linhas marítimas.
Novas linhas? Recuperação da frota? Hein?
Alguns avanços foram feitos, mas nada além do naturalmente exigido pelo tempo.
Me dá um dinheiro aí!
Agora, se a empresa é privada, por que o governo continua investindo? O Governo comprou o taxi que o Seu João usa para trabalhar? Pagou pela van do Seu Gumercindo? Então por que vai comprar novas embarcações pra Barcas S/A? O Governo pagou a reforma do salão de beleza da Dona Camylle Victoria? Então por que vai pagar a reforma das estações das Barcas?
Pode ser que esteja sendo ingênuo e que seja papel do Governo fazer grandes investimentos, mas sinceramente isso não entra na minha cabeça. Não sou socialista, mas não entendo as privatizações de uma maneira geral. Se a empresa estatal dá lucro, por que vender? E se está quebrada, quem é maluco de comprar?
Dizem que o Governo deve privatizar para se concentrar no que realmente importa. Mas por acaso o governo é formado por uma única pessoa? Não é melhor contratar bons administradores, como se esperaria que a administração privada fizesse? Por que a Petrobras, empresa de economia mista, é a segunda maior petrolífera do mundo?
Impostos
O investimento poderia ser justificado pelo retorno dos impostos. Mas além dos R$ 300 milhões, o governo também isentou as Barcas S/A de pagar ICMS! E ainda permitiu que a empresa deixe de circular de madrugada.
Que tantos benefícios são esses? Será um prêmio pelo serviço prestado?! Barcas lentas, sem ar-condicionado, cada vez mais caras, atrasos constantes, acidentes frequentes… É, acho que não.
Relatório da UFRJ
Em 2005, a UFRJ preparou um relatório para a agência reguladora do estado sobre a situação econômico-financeira da concessão da empresa Barcas S/A. O relatório concluía pela urgência da reestruturação da Barcas S/A, envolvendo a elaboração de um novo contrato de concessão, com redefinição de objetivos, regras de reajuste, incentivos e penalidades.
Passados seis anos do relatório, nada foi feito. A UFRJ não propunha redução de serviços, isenção fiscal ou injeção de recursos. Injetar recursos estaduais, trocar a concessionária, fechar a agência reguladora, não resolve o problema, só o empurra com a barriga. É preciso reestruturar a concessão.
O cidadão precisa saber que a barca não é milagrosa. Ou fica duas horas num ônibus ou fica 20 minutos, meia hora, uma hora na fila. É opção dele. A barca atravessa em 14 minutos. Em véspera de feriado, ele vai esperar uma hora se quiser. E sem vandalismo. Ou vai ficar duas horas na fila.
Flávio Almada – Superintendente das Barcas S/A em abril de 2009.
Aumento de 61%
Em fevereiro de 2012, a passagem das barcas aumentou de R$ 2,80 para R$ 4,50, um reajuste de 61%. O povo se organizou, protestou, mas não teve jeito: o aumento foi mantido, o Ministério Público se calou e o povo, mais uma vez, foi feito de palhaço.
As fotos que ilustram este post são de Paulo Lemos e William Kitzinger.
5 comentários
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Pois é! Vi esta notícia e pensei a mesma coisa! Mas se não me engano, a obrigação pela compra de novas embarcações é do governo, ou algo assim, enquanto a manutenção e prestação do serviço são da Barcas.
Me corrijam se eu estiver errado!
Abraço!
Nenhuma novidade: lucros privados e prejuízos socializados. É a velha prática da politicagem brasileira cujas campanhas são financiadas pela empresas tais quais a Barcas S.A. e seus controladores. Ainda que a compra das embarcações seja obrigação do estado e a operação da concessionária, quem “desenhou” o sistema para assim funcionar o fez para operacionalizar o princípio de tudo aos financiadores de campanha e nada aos usuários.
Agência de Reguladora de Transporte será investigada pelo Ministério Público
O Ministério Público estadual irá investigar a Agetransp (Agência Reguladora de Serviços Públicos de Transportes) por sua suposta complacência com as concessionárias Metrô Rio, Supervia e Barcas SA. A pouca produtividade na fiscalização resultando em apenas 21 multas e sete infrações aplicadas desde 1998, quando ainda era Asep (Agência de Serviços Públicos Concedidos) chamou atenção do MP.
http://amahet.blogspot.com/2011/06/agencia-de-reguladora-de-transporte.html
brincadeira…….
nem eu sei….